segunda-feira, 30 de março de 2009

Como alcançar a China e a Índia?

COMPETITIVIDADE NACIONAL

Desde o final da década de 1980, o Relatório de Competitividade Mundial (WorldCompetitiveness Yearbook), publicado pelo IMD suíço, tem sido importante ferramenta de análise da capacidade de um país de prover um ambiente no qual as empresas possam competir (eficientemente) e crescer. A partir da análise comparativa entre os vários indicadores das principais vantagens e desvantagens competitivas de 53 países e oito regiões econômicas, o IMD elabora rankings anuais com a posição competitiva de cada economia. A classificação se baseia em um conceito de competitividade que ressalta as relações “horizontais” entre diversas nações em um período de tempo definido. Se, por um lado, o estudo é capaz de captar as alterações de curto prazo na competitividade de uma nação, por outro, os relacionamentos dinâmicos da competitividade entre nações, menos voláteis do que os desempenhos econômicos nacionais individuais, são apenas parcialmente explicitados. Reconhecer esse fato ajuda a entender a grande variação nas posições entre ospaíses emergentes. Suas economias são, sem dúvida, mais vulneráveis a mudanças bruscas nos ciclos econômicos mundiais do que as das nações desenvolvidas. O expressivo crescimento da economia mundial parece confirmar a mudança –22 das 61 economias estudadas cresceram mais de 5% em 2005. Apesar disso, muitos países ainda têm dificuldades para organizar seus recursos e aproveitar as novas tendências. Uma análise interessante pode ser feita com o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China, países que, segundo o banco de investimentos Goldman Sachs, serão grandes potências em 2050). No início apenas China e Índia pareciam caminhar rumo ao desenvolvimento e atualmente só o Brasil não apresenta taxas de crescimento significativas.

Como alcançar a China e a Índia?

Apenas o Brasil, dos quatro países candidatos a potências mundiais reunidos na sigla BRIC, ainda não reencontrou o caminho da competitividade. No último Relatório de Competitividade Mundial, do IMD, o País perdeu uma posição no ranking geral e 11 no de eficiência empresarial. Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral, analisa as perspectivas brasileiras, compara-as com as dos outros países e aponta as oportunidades existentes no horizonte HSM Management 59 novembro-dezembro 2006 Relatório de Competitividade Mundial e BRIC Em 2003, o Goldman Sachs publicou um estudo sobre as tendências de crescimento econômico mundial, a acumulação de riquezas e os ganhos de produtividade que prevê que, nos próximos 50 anos, o BRIC poderá tornar-se uma força muito maior na economia mundial. A projeção afirma que em menos de 40 anos a economia de Brasil, Rússia, Índia e China juntos será maior do que a do G6, partindo de uma base que atualmente representa menos de 15%. Dessa forma, em 2050 teremos uma nova composição do G6 –Estados Unidos, Japão e o BRIC–, ficando de fora desse clube exclusivo os demais membros atuais (Alemanha, Reino Unido, França e Itália). No entanto, o estudo sugere que os países em questão mantenham suas políticas e o desenvolvimento de instituições e regras que promovam o crescimento como condição básica para a realização dessas projeções.
As projeções de crescimento previstas pelo Goldman Sachs para o BRIC se apóiam no modelo de desenvolvimento econômico e social proposto pelo economista argentino Robert Barros, em que o crescimento econômico de um país está baseado no aumento do nível de escolaridade e da expectativa de vida, na redução da fertilidade e dos gastos da administração pública, na manutenção de regras bem definidas e de inflação baixa e na melhoria do comércio. Esses aspectos são, por sua vez, resultado de uma estrutura institucional adequada, que garante políticas de estabilidade macroeconômica e abertura para o comércio e investimentos internacionais. Há uma significativa correlação entre os fatores-chave de desenvolvimento apresentados pelos estudos de Barros e os fatores de competitividade analisados no Relatório de Competitividade Mundial do IMD. O fator “performance econômica” está associado à estabilidade macro do economista, condição fundamental para o crescimento, seja pelo controle da inflação para incentivo da poupança e do investimento, seja pela redução do déficit fiscal e do controle das políticas monetárias e cambiais. O fator “eficiência do governo” está vinculado ao estabelecimento de instituições que garantam a aplicação de regras eficientes e suportem o adequado funcionamento da economia, tanto em seus aspectos macro como micro. Para o Goldman Sachs, instituições desse tipo incluem os sistemas legal, de saúde e de educação, o funcionamento dos mercados, as organizações financeiras e a burocracia governamental. As pesquisas indicam ainda que políticas públicas e econômicas inadequadas são sintomas de falhas de longo prazo nos sistemas institucionais. A terceira condição proposta é a “abertura da economia”, que no relatório do IMD aparece no subfator “legislação de suporte à atividade empresarial”. Assim, a abertura para o comércio e para investimentos diretos pode dar ao país acesso a insumos importados, novas tecnologias e mercados. A quarta e última condição básica para o desenvolvimento sugerida por Barros é o “crescimento da educação”. Segundo ele, à medida que as economias crescem rapidamente, pode ocorrer a falta de trabalhadores qualificados, o que acarretaria mais tempo e investimento em educação como pré-requisito para o estágio de desenvolvimento econômico seguinte. O estudo do Goldman Sachs destaca que muitas pesquisas encontraram significativa correlação entre o nível de educação e o crescimento per capita do PIB –da ordem de 0,3% de crescimento anual para cada ano adicional de educação da população. No relatório, a educação é avaliada nos subfatores “educação” e no fator “infraestrutura”, baseado em 14 indicadores. Competindo para o futuro
Fonte: Goldman Sachs, Dreaming with BRICs: the path to 2050, Global Economics Paper, n. 99, 2003.
No Relatório de Competitividade Mundial de 2006, os países que compõem o BRIC apresentam resultados diversos. China e Índia se destacam pelo crescimento no ranking geral, subindo para a 19ª e 29ª posições, respectivamente, alinhadas às projeções do Goldman Sachs. Já o Brasil perdeu uma posição, caindo para a 52ª, enquanto a Rússia se mantém na 54ª colocação.

E o futuro?

A pergunta que todos se fazem agora é: conseguirá a China manter os altos níveis de crescimento econômico e competitivo? Apesar do otimismo de muitos, há sinais de fragilidades no horizonte. Um deles pode estar relacionado à pressão por aumento dos salários e à redução do número de pessoal qualificado disponível para as indústrias. Em um artigo publicado este ano pela Business. Há sinais de ragilidades da China no horizonte. Um deles tem a ver com pressão por aumento dos salários e redução do número de pessoal qualificado disponível Week soou o primeiro alarme: em 2005, o turnover em empresas multinacionais na China chegou a 14%, contra 11,3% em 2004 e 8,3% em 2001. Por outro lado, somente em 2005 os salários subiram 8,4%, o que teria causado, segundo estudo da Câmara Americana de Comércio da China (Amcham-China) citado na reportagem, perdas de até 5% nas margens de lucro de algumas multinacionais norte-americanas. Em algumas regiões próximas a Xangai (Suzhou, por exemplo), a grande concentração de empresas de base tecnológica fez com que os salários mais baixos subissem até 40%, chegando a US$ 160 por mês. O estudo da Amcham-China sugere que essa pressão tem tanto a ver com a qualificação como com o número de trabalhadores disponíveis. Apesar de a força de trabalho no país ser de cerca de 800 milhões de pessoas, relativamente poucas têm a qualificação necessária para atividades mais sofisticadas. Segundo o estudo, indústrias como a têxtil, de brinquedos e de tecnologia requerem trabalhadores jovens com formação técnica e experiência, o que está cada vez mais difícil de encontrar nos grandes centros industriais. No entanto, a escassez de profissionais qualificados não ocorre somente nas atividades industriais. Apenas 10% dos candidatos chineses para postos em áreas-chave como finanças, contabilidade e engenharia estão qualificados para o trabalho em empresas multinacionais. De acordo com estimativas da McKinsey, a China tem hoje cerca de 5 mil profissionais qualificados em gestão para uma necessidade de 75 mil empregos que serão criados nos próximos cinco anos. O diretor da McKinsey em Xangai, Andrew Grant, acredita que a falta de talentos será o principal limitador para o crescimento futuro da China. “Será mais cedo e mais intensa do que qualquer outra limitação por que passará o país no futuro.” A Índia é, sem dúvida, a principal plataforma mundial de operação das atividades de terceirização de serviços e de produção de softwares. A exportação de serviços, que representou 6,26% do PIB em 2005, tende a crescer exponencialmente, com a transferência para o país de atividades não apenas de serviço de apoio (telemarketing, processamento bancário, processamento contábil), mas também para a realização de pesquisa e desenvolvimento em segmentos diversos, como biotecnologia, microeletrônica e nanotecnologia. Com mão-de-obra altamente qualificada e de baixo custo, além de considerável respeito à propriedade intelectual, a Índia tem estabelecido as condições ideais para ocupar lugar de destaque no mundo dos serviços. A Rússia, apesar do ambiente ainda incerto, começa a apresentar condições para empreender mudanças em seu ambiente econômico e social. O planejamento adequado, o gasto consciente dos recursos e a realização de reformas institucionais poderão, finalmente, organizar o mercado russo, criando um ambiente competitivo e próspero para gerar retornos positivos e reverter a tendência negativa que o país enfrenta desde o fim do comunismo. No caso do Brasil, é perceptível que, apesar da queda no ranking, o País contou com diversas melhorias em 2005. Ainda há grandes desafios a enfrentar, mas que podem ser superados. Em primeiro lugar, é possível melhorar significativamente a eficiência pública e privada encontrando maneiras de reduzir as práticas ilegais dentro dos governos. Isso traria melhorias para a população e para as empresas, pois os recursos seriam mais bem aplicados e os custos para a realização de negócios no País poderiam diminuir. Outra importante ação capaz de gerar resultados significativos seria a construção de um grande plano nacional com objetivos, desenvolvimento de programas e políticas para alcançá-los e avaliação dos resultados obtidos. Essa ferramenta de planejamento, ainda pouco utilizada no Brasil, é um dos maiores trunfos da China, que lançou este ano seu 11º plano qüinqüenal, para avaliar detalhadamente a situação do país e estabelecer prioridades e metas que serão buscadas nos próximos anos.
HSM Management 59 novembro-dezembro 2006

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