quarta-feira, 11 de março de 2009

Crise versus competitividade

A crise faz com que venham à tona todas as verdades e deficiências competitivas de uma empresa, país ou sociedade. E é esse choque de realidade que estamos vivendo no Brasil, com a drástica redução da produção industrial e a diminuição dos postos de trabalho. Precisamos, portanto, pensar o Brasil como fazemos em uma empresa, avaliando as suas principais dificuldades para enfrentar a crescente competitividade internacional, guiando-se pelos melhores exemplos vigentes em outras nações, o que chamamos de benchmarks. Entretanto, para iniciar esse processo precisamos, antes de tudo, ter a consciência da crise. Isso é fundamental para buscarmos soluções para minimizar as deficiências do país. Por exemplo, investir em uma fábrica ou em uma usina para geração de energia no Brasil, devido aos impostos sobre o imobilizado, custa entre 30%-40% a mais do que em outros países estruturados para aumentar a sua competitividade e, consequentemente, o seu desenvolvimento. Para termos a dimensão clara do impacto dos impostos sobre o investimento, tomemos o exemplo de dois produtores de arroz: um brasileiro e um do Uruguai, país que já adota o Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Ao exportar, o uruguaio pode compensar o IVA pago na compra de combustível, máquinas, arame farpado ou adubo por meio do IVA. Já o brasileiro não tem essa possibilidade, o que impacta diretamente em seu custo de produção. Adicionalmente, temos uma multiplicidade de regimes tributários – um em cada Estado brasileiro, com legislações específicas e contínuas alterações em suas normas. Somem-se a isso os elevados juros que pagamos para obter os recursos para investir. As deficiências na área de energia também precisam ser enfrentadas. Temos um grande potencial para geração de energia hidrelétrica. Entretanto, o número de usinas térmicas, mais caras, tem crescido, o que aumenta o custo da energia. No período de 2001 a 2008, a tarifa média da energia para a indústria aumentou 163%, de R$ 82/MWh para R$ 217 MW/h. Além disso, o preço da energia hidrelétrica tem sido equiparado ao da térmica, o que não faz sentido: as usinas, em sua maior parte, foram financiadas pela sociedade via empréstimo compulsório, décadas atrás. Portanto, esse custo já foi pago. Além disso, consumidores residenciais chegam a pagar até 85% de encargos e tributos sobre o custo da energia. Outro tema bastante importante que precisa ser considerado é a logística, que reduz a competitividade brasileira de forma assustadora. Hoje, para escoar a produção enfrenta-se um alto custo, causado pela péssima condição das estradas, a burocracia no sistema portuário, a limitada existência de uma rede ferroviária e a ineficiência ou inexistência da navegação de cabotagem. Ademais, temos o problema da ineficiência de gestão causado pela burocracia do sistema público. A sua morosidade gera custos adicionais ao Estado e às empresas, além de diminuir a qualidade dos serviços prestados à comunidade. Precisamos também reduzir a demora na aprovação de projetos pelos órgãos ambientais. Saúde e qualidade no ensino impactam diretamente a produtividade das pessoas, áreas em que o interesse social e econômico se identificam. Executivo, Legislativo, Judiciário, empresas e sindicatos precisam deixar de lado o conservadorismo e buscar, juntos, alternativas para o desenvolvimento, a partir da modernização das estruturas e da legislação. Temos que buscar mais a geração de empregos e menos o assistencialismo. Aumentar a competitividade é o caminho mais curto para tornarmos o Brasil um país melhor. O momento é propício, basta humildade, esforço e vontade política para tanto.

Empresário, presidente do Conselho de Administração da Gerdau

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