segunda-feira, 30 de março de 2009

Responsabilidade Social: Novo componente na competitividade empresarial

Os conceitos de responsabilidade social e sustentabilidade estão sendo gradativamente incorporados pela sociedade. Embora sejam conceitos relativamente novos, sua aplicação já se faz sentir sobre toda a cadeia produtiva. Setores da economia que produzem em grande escala têm sofrido pressões, tanto dentro do país quanto fora dele, para que tenham maior responsabilidade no uso dos recursos naturais e na forma como administram a produção de bens de consumo.
O conceito de Responsabilidade Social Empresarial tornou-se verdadeiro compromisso dos empresários a partir do Conselho Empresarial Mundial de Desenvolvimento Sustentável em 1998. Suas diretrizes tratam do comprometimento com a qualidade de vida dos trabalhadores e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo. A responsabilidade ética, a transparência nas relações com o público consumidor, a preservação do meio ambiente, o respeito à diversidade e a promoção da redução das desigualdades sociais, são partes integrantes dessa nova mentalidade.
Atualmente, nota-se um esforço mundial para padronização de critérios de responsabilidade social e sustentabilidade. O tratamento dispensado pelas empresas aos trabalhadores tem levado os consumidores a não adquirir produtos de empresas que utilizam mão de obra infantil ou não garantam condições de dignidade, em padrões cada vez mais elevados, aos funcionários.
A alimentação, transporte e abate de bovinos, suínos e aves alteram-se mundo afora, graças à renovação do conceito de maus tratos a animais. Outro exemplo de como essa nova postura afeta a sociedade, os governos e os empresários são as informações exigidas pela população e as medidas adotadas pelos governos para cumpri-las. Merece menção a rotulagem de alimentos produzidos com grãos modificados geneticamente, implementadas nas sociedades mais avançadas, em resposta a pressões sociais.
Evidentemente, o Brasil não ficou imune aos influxos dessa nova postura. Prova disso é a pressão de blocos econômicos para impedir o cultivo de cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal, biomas estratégicos para preservação da água e de inúmeras outras riquezas consideradas bens da humanidade. O debate mundial sobre a produção de energia limpa interfere nas atividades do setor de combustíveis e de geração de energia elétrica, com impacto nos preços e na aceitação de nosso produto no exterior.Alguns setores do empresariado brasileiro têm dado passos largos rumo à profissionalização na gestão de suas empresas. Cresce no país a consciência da necessidade de ampliar as discussões na busca de alternativas voltadas à inclusão social.
Hoje já há uma compreensão de que os governos sozinhos não conseguem resolver as questões estruturais. De nada adianta empresas sadias em sociedades doentes. Ainda que o resultado da responsabilidade corporativa não possa ser mensurável em curto prazo, a satisfação gerada pela promoção do bem estar comum pode ser percebida imediatamente em cada indivíduo que a exerce.


Empresas brasileiras são modelos bem sucedidos de gestão responsável


Empresas brasileiras de setores muito distintos, como a Natura Cosméticos e Vale de mineração, que atuam em vários países, estão se transformando em modelos da nova postura de responsabilidade social.
A empresa Natura Cosméticos atua em regiões extrativistas da Amazônia brasileira, capacitando e apoiando as comunidades locais. Além de garantir maior qualidade de vida àquelas populações, a empresa consegue acesso seguro e qualificado às matérias-primas originárias da floresta, como castanhas e essências da flora local.
A empresa de mineração Vale desenvolve programas diversos nas mais variadas áreas. Destaque-se um recente projeto de preservação da fauna brasileira desenvolvido em parceria com o IBAMA e outras instituições, que trata da repatriação e do monitoramento de aves raras apreendidas com traficantes de animais silvestres. A empresa mantém ainda Reservas Particulares do Patrimônio Natural, onde os animais, antes aprisionados, serão reintroduzidos na natureza e monitorados por sistema de rádio, em pesquisa de longo prazo, que demanda inúmeros recursos.
Empreendedores de menor escala também dão bons exemplos. Na região do Alto Paranaíba/MG, podemos citar o Sítio do Cedro, cuja atividade é a produção de rebanho leiteiro. A gestão do empresário Mário Porto Fonseca já recebeu importantes prêmios pela adoção de políticas responsáveis nas atividades produtivas. A propriedade atua em parceria com Universidades e funciona como centro de pesquisas e aprimoramento dos processos produtivos. A fazenda recebe estagiários de universidades brasileiras e de outros países, numa troca permanente de informações destinadas ao aperfeiçoamento de novas tecnologias para melhoria da qualidade do rebanho, dos produtos e serviços.
Com essas ações, as empresas contribuem para o desenvolvimento do país e, de certa maneira, compensam os impactos ambientais decorrentes de suas atividades produtivas. O resultado, além de benéfico para o desenvolvimento social e para o crescimento da economia, é benéfico também para as empresas, que constroem uma boa imagem junto aos clientes internos e externos e garantem uma melhor aceitação dos seus produtos no mercado. Esse marketing positivo é fundamental para que as empresas garantam espaço em mercados consumidores cada vez mais exigentes.
Os empresários brasileiros mais atentos às novas exigências da moderna concepção de responsabilidade social, e que de fato incorporaram esses valores, levam considerável vantagem na competição com aqueles que insistem nas antigas posturas administrativas. As empresas devem, portanto, adaptar-se rapidamente às novas exigências de responsabilidade social na geração de riqueza.
Não se deve, contudo, perder a percepção de que, sob a máscara da proteção aos recursos naturais e às populações, aqueles que operam no jogo econômico e político visam, em muitos casos, apenas à manutenção do status quo da geopolítica mundial. É preciso, pois, estar atento, buscar informações precisas e não se deixar levar por velhas ideologias travestidas em novas formas conceituais.
A qualidade de vida que escolhemos no momento presente e a que vamos legar às gerações futuras dependem, em grande medida, das atitudes que os empreendedores estarão dispostos a adotar na gestão de seus negócios e na forma como encaram o desenvolvimento do país. É preciso que eles internalizem em suas atividades este novo componente: o bem estar social agregado a uma visão global das responsabilidades e das conseqüências econômicas e sociais de suas atividades, não só no presente, mas também no longo prazo.


Resultados positivos para a sociedade e o meio ambiente


A sociedade, em diferentes partes do planeta, tem cobrado responsabilidade social das empresas. Os empreendedores são obrigados a prestar contas de suas atividades à população: incluídos aí, acionistas, governos, mídias e comunidades. As comunidades afetadas pelos empreendimentos querem saber como e quanto dos recursos naturais serão utilizados, quais são os índices de poluição da atividade e muitas outras informações relativas aos processos produtivos, que até bem pouco tempo só diziam respeito aos industriais. Com as políticas públicas democratizadas, faz-se necessário um arranjo institucional para que todos os setores sejam contemplados também nas decisões empresariais privadas. Já não é mais possível separar o empresário do cidadão. Tornou-se imprescindível o comprometimento com a ética, com a qualidade de vida, com a responsabilidade no uso dos recursos naturais, visando o mínimo impacto sobre o meio ambiente e sobre as populações.
Por isso mesmo, a responsabilidade social e a sustentabilidade das atividades começam a fazer parte do planejamento estratégico das empresas, que engloba ações preventivas, pesquisas tecnológicas e análises mais criteriosas para prever riscos futuros e evitar impactos ambientais e processos judiciais. A sociedade, por sua vez, passou a provocar cada vez mais a atuação do Ministério Público e este, consciente de seus deveres institucionais, tem exigido transparência na atuação das empresas e tem cobrado medidas para prevenir acidentes com o meio ambiente ou com os empregados.
Na nova ordem globalizada, os acordos internacionais preconizam uma conduta empresarial pautada pela transparência. Os engodos e a busca do lucro fácil em breve serão assuntos do passado. Os processos judiciais, que impõem multas pesadas e mancham a imagem das empresas, desestimulam gradativamente aqueles que ainda não se convenceram da necessidade de mudar de atitude e evitar os prejuízos resultantes de condutas irresponsáveis.É preciso acreditar que, independente do volume ou origem dos negócios, cada empreendedor pode contribuir, com a adoção de uma postura responsável, para elevar os índices de desenvolvimento social, o que resultará em um mundo melhor para todos.
Muito válida é a mensagem da psiquiatra Clarissa Pinkola Estés, em trecho do seu livro Mulheres que Correm com Lobos: “Todas as criaturas do planeta voltam para casa. É uma ironia que nós tenhamos construído santuários para a íbis, o pelicano, a graça-real, o lobo, o grou, o cervo, o camundongo, o alce, o urso, mas não para nós mesmos, nos lugares em que vivemos nosso dia-a-dia. Nós compreendemos que a perda do habitat é o acontecimento mais desastroso que pode se abater sobre um ser livre. Apontamos com veemência como os territórios naturais de outras criaturas foram cercados por cidades, fazendas, rodovias, barulho e outras incongruências, como se nós mesmos não estivéssemos cercados pelos mesmos problemas, como se não fôssemos afetados do mesmo modo. Sabemos que para que os animais continuem a viver, eles precisam pelo menos de vez em quando de um lar, um lugar em que se sintam protegidos e livres. Faz parte de nossa tradição compensar a perda de um habitat mais sereno tirando férias ou dias de folga”.
É somente com o exercício consciente da cidadania e com o respeito a todas as formas de vida e às diferentes culturas existentes na terra que poderemos alcançar o bem comum e garantir a harmonia entre todos os que habitam este planeta.


Janete Porto
Fonte: Revista Black Or Pink, Ed. 01, 12/2008

Um comentário:

  1. Parabéns Laura! Tema relevante e atual. Continue assim. Você tem futuro.

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